Cavernas submersas têm ossos de homens e animais com 12 mil anos de antiguidade.
Debaixo
de um território que guarda inúmeras pirâmides e histórias milenares,
pesquisadores mexicanos descobriram um novo tesouro arqueológico: em
uma caverna submersa em Yucatán, no sudeste do México, eles
encontraram, pela primeira, vez cinco crânios completos e mandíbulas de
ursos semelhantes aos de uma espécie já extinta na América há 12 mil
anos e desconhecida na região onde foi achada, além de seis restos
ósseos humanos que poderiam ter a mesma antiguidade.
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O material foi encontrado em alto estado de preservação e pode nos
ajudar a conhecer melhor a história de Yucatán. Os restos humanos
poderiam estar relacionados aos ossos dos ursos encontrados, o que
seria incrível. Mas não podemos descartar que fossem maias que chegaram
à região muitos anos depois — explicou ao GLOBO o arqueólogo Guillermo
de Anda, da Universidade Autônoma de Yucatán.
A
probabilidade de que tenham sido maias pré-hispânicos ganha força
porque, no mesmo lugar, de 50 metros de profundidade, foi encontrada
ainda uma oferenda com ossos humanos que os especialistas acreditam ter
sido depositada ali pelos indígenas da região entre os séculos IX e X,
quando o nível da água dentro da caverna era muito mais baixo.
A previsão é que, até o fim do ano, seja divulgada uma data mais esclarecedora sobre o material humano encontrado.
Mas
o arqueólogo adianta que, caso se comprove que eram maias e não homens
contemporâneos, o fato em nada desmerece a importância das cavernas
submersas para a pesquisa de uma área em expansão no país, a
arqueologia subaquática (
um vídeo pode ser visto em http://youtu.be/96a9M8kYukE).
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Os cenotes, como chamamos, são verdadeiros laboratórios naturais.
Trata-se de um ambiente homogêneo cuja condição de temperatura,
composição química da água, nível de musgo e ausência de luz, durante
milhares de anos, faz com que o material depositado ali se estabilize e
seja preservado — esclarece De Anda. — Esse é um mundo debaixo da
terra que sustentou uma população maia de cerca de três milhões de
pessoas, graças a esse manto freático.
Na
caverna submersa, entre Sotuta e Homun, em Yucatán, também se podem
observar com facilidade as marcas nas paredes dos diferentes níveis de
água no local até o século X, o que pode ajudar os especialistas a
entender as mudanças climáticas ocorridas na região.
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Estamos encontrando elementos que comprovam os períodos de grandes
secas dos séculos VIII, IX e X de que nos falam fontes históricas. E,
pela primeira vez, estudamos essas mudanças a partir do próprio
material arqueológico — diz De Anda, em referência também à cerâmica
maia que foi encontrada na caverna e cuja origem seria os séculos IX e
X.
Perto dali, em cavernas submersas
de Quintana Roo, pesquisadores também relataram a descoberta de ossos
humanos e restos de outros animais da fauna da época plistocena e que
foram depositados ali quando a cavidade ainda estaria seca, há milhares
de anos.
O material foi encontrado a profundidades entre 42 e 60 metros, similares às das cavernas inundadas de Yucatán.
Agora o desafio é elaborar uma metodologia que aponte com precisão o período a que corresponde cada marca de nível de água.
O
estudo dessas variações vai permitir entender como elas modificaram a
geografia da região que não poderiam ser obtidas na superfície.
Fonte: O Globo Online